quarta-feira, 19 de outubro de 2011

VIVE LA RÉV(E) (S)OLUTION - ao casal desconhecido

No dia 24 de Março de 2011, na rua de Santa Catarina, estava um casal de adolescentes beijando-se imóveis, qual estátuas humanas. O resto das pessoas circulavam atarefadas, desviando-se dos jovens que, às vezes, levavam algumas cotoveladas apressadas.

No entanto, nada parecia perturbá-los. A verdade é que eles não estavam ali. Estavam noutro lugar, noutro tempo, onde os minutos são horas e as ruas são desertas. Mais ninguém partilhava da mesma realidade. (eu sei porque já lá estive também)

Por três vezes passei por eles, para cima e para baixo, também eu atarefada, e eles lá estavam, imóveis, como se o tempo não passasse. Lembrando que na verdade o tempo é arte, o tempo é beleza e a Terra o lugar para amar.

Naquele local, estava na verdade, outra dimensão. E eles eram o portal para esse universo paralelo: a coexistência de vários mundos no mesmo espaço e tempo.

Ali, naquela mesma rua onde, há poucos meses, outro casal, mais velho talvez, fora espancado pelas mesmas razões: integrarem a dimensão do amor na dimensão quotidiana. Isto é a verdadeira arte. Amada, odiada ou ignorada. Mais espontânea, mais automática, mais filosófica e hormonal do que a arte contemporânea em geral. Mas poesia pura, dança, cinema, fotografia, música, uma pintura subversiva, a revolução dramática do amor em que a rua é o palco e o quotidiano a audiência



dedicado a José Argüelles, falecido no dia anterior, 23-03-2011, não viveu para conhecer o 2012, que descanse em paz

dedicado também aos meus professores de dança, poesia e teatro. Obrigada por me darem asas para sonhar. Respectivamente, Yola Pinto, Rosa Maria Martelo e Alexandra Moreira da Silva

e, claro, também agradeço ao casal pela partilha

1 comentários:

cecilia barreira disse...

Escrita límpida.
Cecília