quarta-feira, 16 de maio de 2012

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talvez te desse de mim todo o meu tempo
talvez de todas as palavras a minha voz
talvez de todo o meu corpo a minha alma
talvez dos meus poemas a ti mesmo
talvez oferecendo-te nunca te tivesse 

nunca mais te escrevi, assim te guardo.
como quem quer o mundo inteiro só para sí.

domingo, 13 de maio de 2012

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Começo a desvendar todo o trama que envolve as frenéticas viagens de comboio.
Um frenesim que se instala aos ouvidos de quem passa e por quem passa, como uma lâmina que impede uma fuga forçada do local que o destino escolheu para realizar esse destino.

Consegue ser mais delicado do que qualquer homem que se imagina quando se imagina um homem.
De certo nos cruzamos para que se cumprisse algum fim, consigo senti-lo. não consinto que falem de intuição feminina. É o destino a olhar-me nos olhos e tu também o sentes de certo porque me olhas.
Incomoda me as gentes a atravessar-me o destino. perco-te segundos mas sinto-te esperando. Continuas sem desviar o olhar como calculei. não consinto que me falem em perspicácia. Sei o que vejo não o que ouço. o destino a tentar cumprir-nos.
Por obrigação do destino que ousei não cumprir saio a tempo na paragem.
Assusta-me pensar que tantas vezes deixo que a felicidade saia na paragem do lado. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Loira Flamejante

Loira flamejante, toda eu era poesia.
Do meu vestido azul de veludo pregueado, aos dois laços de letras neon escarlate, 
cruzados um sobre o outro na cabeça...toda eu era fonologia.
Da pele, feixes ondeantes de versos frenéticos entre o rodopio de um refrão de luz, sílabas métricas entrecortadas por um abrir e fechar de acentos doirados chamejavam as letras do timbre da tua guitarra, e as sapatilhas:
com a lua debaixo dos pés, traziam o céu estampado a verniz.
Frases simples contidas em bolas de sabão, envolviam-me de magia, num outdoor gigante frente à tua casa.
O meu vestido tinha flores bordadas e muitas, muitas rimas.
O anel cheirava a jasmim e tu, arquiteto do poema, beijavas-me a mão, 
virgulando flama em flama este guizo d’oiro deflagrado em mim.
Botão a botão, vogal a consoante, ao teu ritmo, transparecia o tule carmim.
Hoje adormeço à espera de sonhar contigo, nesta morada de papel
rasurada de nostalgia.
Hoje dou de tomar à dor para que não se torne tirana.
Amante de Balzac, Flaubert e Machado de Assis.
Guerreira poética, amante de Aquiles, sepulcro no peito o amargo doce da vida.
Numa gramática de sonhos, loira flamejante, toda eu era poesia.