sexta-feira, 4 de maio de 2012

Loira Flamejante

Loira flamejante, toda eu era poesia.
Do meu vestido azul de veludo pregueado, aos dois laços de letras neon escarlate, 
cruzados um sobre o outro na cabeça...toda eu era fonologia.
Da pele, feixes ondeantes de versos frenéticos entre o rodopio de um refrão de luz, sílabas métricas entrecortadas por um abrir e fechar de acentos doirados chamejavam as letras do timbre da tua guitarra, e as sapatilhas:
com a lua debaixo dos pés, traziam o céu estampado a verniz.
Frases simples contidas em bolas de sabão, envolviam-me de magia, num outdoor gigante frente à tua casa.
O meu vestido tinha flores bordadas e muitas, muitas rimas.
O anel cheirava a jasmim e tu, arquiteto do poema, beijavas-me a mão, 
virgulando flama em flama este guizo d’oiro deflagrado em mim.
Botão a botão, vogal a consoante, ao teu ritmo, transparecia o tule carmim.
Hoje adormeço à espera de sonhar contigo, nesta morada de papel
rasurada de nostalgia.
Hoje dou de tomar à dor para que não se torne tirana.
Amante de Balzac, Flaubert e Machado de Assis.
Guerreira poética, amante de Aquiles, sepulcro no peito o amargo doce da vida.
Numa gramática de sonhos, loira flamejante, toda eu era poesia.

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